Um pouco de suas história:
Quando Francisco dos Santos (20/04/1919 -
14/03/1996) topou com Ana Eufrosina da Silva (28/03/1923 - 11/06/1981) sua vida
tomou outro rumo.
Ele estava em Araras, no interior paulista, se apresentando com o Circo Nova
Iorque, e ela foi assistí-lo. Ela tinha 17 anos, estava noiva, mas seu destino
estava escrito. "Quando vi aquele mulato tocando violão, me
apaixonei" contou ela.
O violeiro e a moreninha se casaram cinco meses depois, no dia 23 de setembro
de 1941. Romance que daria pra virar música, filme e poesia. Cantaram nos
picadeiros de centenas de circos por todo o país, gravaram 54 discos de 78 rpm
e 30 LPs. Venderam milhares de discos numa época em que vitrola era artigo de
luxo. Cantaram o Brasil mulato, o Brasil Caboclo, o Brasil fronteiriço a outros
sons e culturas, traduziram a linguagem rítmica e poética de um país que nos
anos 50 vivia um acelerado processo de urbanização.
Cascatinha, como contava, ganhou o apelido ainda na infância, por matar as
aulas pra tomar banho de cascata. Outra versão sobre o apelido, é que este
teria surgido depois da formação da parceria com Chope, em alusão à cerveja
"Cascatinha" .
Do casamento surgiu o Trio Esperança (Cascatinha, Ana e Chope). Com o
desentendimento de Cascatinha e Chope, Ana começou oficialmente a dividir os
palcos com o marido. Cascatinha achou que "Inhana", corruptela de
Sinhá Ana, seria ideal pra ela. Assim, em 1942 surgia a dupla que faria
história.
Foram contratados pelo Circo Estrela Dalva e, entre diversas excursões pelo
Brasil, atuaram também em outros circos e também no Parque de Diversões
Imperial. Em 1947, quando o parque passou por Bauru-SP, Cascatinha e Inhana
assinaram um contrato de um ano com a Rádio Clube de Bauru. Nessa ocasião,
cansados que estavam de tantas andanças, acharam que “seria a hora de dar uma
pausa”.
Assim, em 1948, um novo rumo: a Capital Paulista. Contratados pela Rádio
América, foram morar num "quarto e cozinha" no Ipiranga. Dois anos
depois, foram para a Rádio Record, onde permaneceram por 12 anos.
Em 1951, Raul Torres, (que Cascatinha e Inhana já conheciam
desde os tempos em que tentavam a sorte no Rio de Janeiro), juntamente com
Florêncio e Rielli, tinha um show marcado na cidade de Jundiaí. Como Raul havia
adoecido, sugeriu que Cascatinha e Inhana o substituíssem. E, nesse show,
apesar do cachê razoável oferecido e que havia chegado "em boa hora",
Cascatinha e Inhana interpretariam somente a célebre "Ave-Maria no
Morro" (Herivelto Martins); no entanto, foram aplaudidos de tal modo que
só conseguiram sair do palco após cantar mais uma meia dúzia de outros
sucessos!
Nesse mesmo ano, Raul Torres, quando soube do sucesso do
casal em Jundiaí, convidou Inhana para fazer o acompanhamento vocal nas
gravações das Modas de Viola "Rolinha Correio" (Raul Torres -
Sebastião Teixeira) e "Pomba do Mato" (Raul Torres), na Todamérica,
gravadora na qual Raul tinha boa influência. E, já no dia seguinte, o primeiro
disco foi gravado: um 78 RPM contendo “La Paloma” (S. Yradier – Versão: Pedro
Almeida) e “Fronteiriça” (José Fortuna), lançado em julho de 1951. José Fortuna, por sinal, era o compositor preferido de
Cascatinha.
No quinto disco, também na Todamérica, o maior sucesso da
carreira da dupla: as duas conhecidíssimas versões de José Fortuna para as
Guarânias Paraguaias “Índia” (M. Ortiz Guerrero - José Asunción Flores -
Versão: José Fortuna) (Lado A) e “Meu Primeiro Amor (Lejania)” (Hermínio
Giménez - Versão: José Fortuna - Pinheirinho Junior) (Lado B), disco esse que
atingiu vendagem “astronômica” superior a 2.500.000 cópias!! Marco, na época, pois
foi a primeira vez que um disco de Música Sertaneja atingiu tal vendagem. Um
fato inusitado, diga-se de passagem, pois, nos anos 50, poucas pessoas tinham
aparelhos fonográficos em casa.
Tal o sucesso dos dois lados desse 78 RPM, que veio também o convite para
participarem do filme, “Carnaval em Lá Maior” de Adhemar Gonzaga, em 1955,
filme no qual Cascatinha e Inhana interpretaram os dois sucessos.
E esse disco demorou a sair, porque o diretor artístico da Todamérica (Hernani
Dantas) não o queria gravar pois não acreditava que fosse fazer sucesso. Além
disso, ele também argumentava que a versão original em castelhano era conhecida
demais, para surgir de repente com uma nova letra diferente.
Na verdade, Hernani Dantas acabou cedendo aos pedidos insistentes dos ouvintes
que escutavam as duas guarânias que o casal cantava ao vivo com freqüência na
Rádio Record e que procuravam inutilmente os discos nas lojas, as quais, por
sua vez, os encomendavam à gravadora!
"Índia" e “Meu Primeiro Amor” também foram regravadas ao longo do
tempo por grandes nomes da nossa Boa Música Brasileira, tais como Dilermando
Reis (em Solo de Violão), Carlos Lombardi, Gal Costa, Nara Leão e Taiguara,
apenas para citar alguns.
Calcula-se que a vendagem de "Índia" e "Meu Primeiro Amor"
tanto em 78 RPM, como em LP e CD, pode ter faturado algo como o equivalente à
vendagem dos discos da dupla "Chitãozinho e Xororó" no auge da década
de 80.
Em 1954, receberam Medalha de Ouro da Revista "Equipe" e passaram a
ser conhecidos como "Os Sabiás do Sertão", pelos recursos vocais e
agradáveis nuances desenvolvidos pela dupla. A voz soprano de Inhana é
considerada uma das vozes femininas mais perfeitas do Brasil.
Téo Azevedo considera a voz de Inhana como "a mais bonita e afinada que já
surgiu no Brasil desde que Cabral pisou nesta terra. Gal Costa, Tetê Espíndola
e Elis Regina, as quais são consideradas por muitos como as maiores cantoras do
país, são muito boas, mas afinação e voz bonita igual a de Inhana nunca mais
apareceu. Era perfeita".
O casal "terçava" as vozes como fazem as Duplas Caipiras, porém, a
beleza em particular do timbre das duas vozes, aliada à facilidade com que
Inhana conseguia "passear pelas notas agudas", mais a sofisticação da
"segunda voz" do Cascatinha e os arranjos instrumentais bem
elaborados ("Serra da Boa Esperança" que o diga, conforme veremos
logo abaixo) deram a Cascatinha e Inhana uma "liberdade incomum" para
escolha do repertório, por sinal, um dos mais bem escolhidos, não só na Música
Caipira, mas na Boa Música Brasileira, de um modo geral.
Cascatinha e Inhana também gravaram obras de grandes Compositores Brasileiros
tais como “Guacyra” (Hekel Tavares - Joracy Camargo), “Quero Beijar-te as Mãos”
(Lourival Faissal - Arsênio de Carvalho), "O Menino e o Circo" (Ely Camargo), “Flor do Cafezal” (Luiz Carlos Paraná),
“Chuá, Chuá” (Pedro Sá Pereira - Marques Porto - Ary Pavão), “Colcha de
Retalhos” (Raul Torres), e “Serra da Boa Esperança” (Lamartine Babo) – esta com
um excelente acompanhamento de Piano, Orquestra e Violinos em “Pizzicatti”,
gravada na Chantecler/Continental! Enfim, um repertório riquíssimo em canções
de bastante lirismo, toadas, baiões, xotes, valsas, canções rancheiras e tangos
brejeiros, além das famosas versões de músicas latinas, principalmente as já
mencionadas Guarânias Paraguaias.
A dupla ganhou também o Troféu Roquete
Pinto em 1951, 1953 e 1954, além de seis Discos de Ouro que ganharam por
vendagens de mais de 100.000 exemplares de seus discos.
Com a morte de Inhana, Cascatinha continuou a se apresentar sozinho em
Votuporanga-SP e depois em São José do Rio Preto-SP, onde veio a falecer em
1996, na Beneficência Portuguesa, vítima de cirrose hepática. Viu lançados pelaRevivendo dois CDs: “Índia - Volume 1” e “Meu
Primeiro Amor - Volume 2”, os quais reuniram 38 músicas de seus antigos discos
de 78 RPM. A excelente gravadora paranaense também produziu os volumes 3, 4 e 5
(capa dos cinco CD's à direita) no mesmo estilo dos dois primeiros, formando um
conjunto bastante representativo da obra de Cascatinha e Inhana, além do
excelente encarte explicativo e dados fiéis do disco original, como acontece em
todos os CD's da Revivendo.
Cascatinha também chegou a lançar no ano seguinte ao falecimento de Inhana o LP
"Canto com Saudade". E também participou de uma gravação de “Flor do
Cafezal” (Luís Carlos Paraná) juntamente com Rolando Boldrin em 1982, pela RGE
(hoje Som Livre).
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