UNIVERSO CAIPIRA


A História de Tonico e Tinoco
A maior dupla caipira de todos os tempos deixou cerca de 1.400 músicas gravadas entre 78 rotações, compactos, elepês CDs, totalizando algo em torno de 50 milhões de discos vendidos. Sertanejos antigos e modernos tiraram o chapéu para eles. Tonico , o João Salvador, nasceu em 1917, e Tinoco ,o José, em 1920. Filhos dos Pérez, imigrantes espanhóis aportados por aqui no final do século XIX, foram criados de pés no chão, cantando e tocando viola pelas fazendas de café onde foram colonos, na região de Botucatu e São Manoel, no interior paulista. Desembarcaram em São Paulo em 1941 e quatro anos depois gravaram o primeiro disco. O sucesso foi instantâneo. No final da década, dezenas de duplas imitavam o estilo de Tonico e Tinoco, tentando um lugarzinho no elenco das gravadoras.
A Dupla coração do Brasil, como foi chamada, engatou um sucesso no outro e só começou a sentir o gosto amargo da discriminação no mercado quando este já estava seduzido pela música americana, num país que galopava em direção à industrialização e se distanciava de sua cultura rural. Pressionados pelos novos tempos muitos sertanejos não resistiram ao som das guitarras e dos baixos elétricos. Mas Tonico e Tinoco continuaram agarrados nas suas modas e aos poucos, a partir da década de 60, Tiveram, de se voltar para os públicos interioranos e os das periferias das grandes cidades. Mesmo sem o sucesso de antes, não pararam de gravar- a não ser por dois anos, na década de 70. Por absoluta vocação para a sobrevivência artística, consentiram em modernizar discretamente o som de suas canas-verdes, toadas, modas de viola e cateretês para poderem chegar às produções dos anos 90. Tonico faleceu em 1994 e a partir de então , sem arrefecer, Tinoco passou a tocar a carreira com o filho Tinoquinho.
Tonico e Tinoco, em 1988, com o seu maior fã, José de Palma, de Cariacica, Espírito Santo. Ele é considerado o maior estudioso da dupla, tendo convivido com eles e acompanhado suas andanças pelo Brasil. 
Tonico (João Salvador Perez), faleceu no dia 13 de agosto de 1994, após uma queda da escada do prédio onde morava. O último show da Dupla Tonico e Tinoco, foi na cidade matogrossense de Juína, no dia 07 de agosto de 1994. Tinoco encontrou forças no amor que recebeu dos fãs, e na saudade do companheiro que partiu. Realizou mais de trinta apresentações contratadas anteriormente a morte do irmão. 
TINOCO E ZÉ PAULO
No início do ano de 1995 Tinoco encontrou-se com Zé Paulo, que durante muitos anos cantou ao lado de Peão Carreiro. Deste encontro surgiu uma nova parceria no meio sertanejo. A Gravadora Transcontinental lançou o único CD da dupla no mesmo ano. Em junho de 1996, os amigos decidiram seguir seus próprios caminhos.
TINOCO E TINOQUINHO
Uilton Antonio dos Santos, 27 anos de carreira, gravou 02 compactos e 02 CDs. Trabalhou na década de 70 com a Dupla João Mineiro e Marciano. No início de 1980, resolveu formar sua Banda, realizando grandes eventos pelo interior do Estado de São Paulo.
Em 1992, "Uilton Santos"(nome artístico) trouxe a sua Banda para integrar o Show de Tonico e Tinoco. Com o passar do tempo foi batizado como "Tinoquinho", e adotado de coração por Tinoco como filho. Em junho de 1996 surge a nova formação "Tinoco e Tinoquinho".


Depois de alguns meses Zé Paulo voltou a cantar com o antigo parceiro Peão Carreiro, e Tinoco assumiu uma dupla com o Tinoquinho (Uilton Antonio dos Santos), que já era músico da Banda Coração do Brasil há alguns anos e estabelecera uma relação de filho para pai com Tinoco. Em 1997 lançaram um CD voltado para entidades carentes e realizaram mais de 300 apresentações em 15 meses de trabalho. 
Perto da virada do século, "Tinoco e Tinoquinho" resolveram homenagear os 500 Anos do descobrimento com a música "Brasil Caipira", na qual a dupla canta e conta a história do País. O CD "Brasil Caipira" foi lançado pela Gravadora MoviePlay e traz ainda outros sucessos, a exemplo de "Baile na Roça" (Tinoco e Nadir) e "Chalana" (Mário Zan e Arlindo Pinto).
 
Em de novembro de 2000, Tinoco comemorou 80 anos de vida, e 65 anos de carreira no Olympia, em São Paulo, num show que contou com a participação de vários ícones da musica sertaneja, a exemplo de Chitãozinho e Xororó, Sérgio Reis, Bruno e Marrone, Jaine, Gilberto e Gilmar. Mais de 1500 pessoas lotaram o Olympia para aplaudir "Tinoco do Brasil". 
E em 2005, quando Tinoco completou 70 anos de carreira, o Grupo EPTV, coligada da TV Globo no interior de São Paulo e Minas Gerais, realizou um espetáculo com Tinoco e o violeiro Mazinho Quevedo no Teatro Dom Pedro, em Ribeirão Preto, SP. Gravado ao vivo em DVD, que já está sendo vendido no mercado, o show Coração Caipira é um marco no resgate da música caipira de raiz.
 
Nos tempos mais recentes, Tinoco tem se apresentado em dupla com o radialista Gentil Rossi, em São José do Rio Preto, SP, com o qual já gravou um CD. E assim Tinoco não pára e realiza pelo menos três shows por semana em várias partes do interior brasileiro. 


Mas, às vezes, ele é obrigado a interromper a caminhada por conta da saúde, como aconteceu no passado quando teve um problema na coluna e em seguida uma flebite na perna direita. Mas, depois dos tombos, o homem se levanta rígido e para isso conta com a ajuda do filho José Carlos, também parceiros em suas composições. 

Hoje, aos 90 anos, José Peres continua vivendo no seu apartamento antigo no bairro da Mooca, zona leste da capital paulista, onde mora desde a década de 50 do século passado. E mantém a mesma rotina como se ainda vivesse na roça. Já está acordado às sete horas da manhã e antes de levantar toma o primeiro cafezinho. Por conta da hipoglicemia (baixa taxa de açúcar no sangue) tem de se alimentar várias vezes no dia, a primeira refeição ocorre às nove horas da manhã e a última às oito horas da noite, antes de deitar.
 

Mas das quintas-feiras até os domingos, quando viaja pelo interior do país, só vai dormir depois de uma hora da manhã, porque nesses dias vara a madrugada cantando a cantoria de Tonico e Tinoco, a dupla de música caipira mais famosa do Brasil.
 

Só que agora, diferente do que ocorre desde a década de 1930, Tinoco ponteia a viola na terra, cantarola as duas vozes e Tonico escuta no céu, como diz a música "70 anos" (Tinoco e José Carlos Peres) na abertura do CD "Tinoco do Brasil".
 
Tonico e Tinoco gravaram em 59 anos de carreira mais de 1.500 músicas em 220 discos 78 rotações, 30 compactos simples e duplos, 76 LPS 33 rotações, três CDs inéditos e 20 CDs remasterizados. Os irmãos participaram também de sete filmes: "Lá no Meu Sertão", "Vingança do Chico Mineiro", "A Marca da Ferradura", "Os Três Justiceiros", "Luar do Sertão", "o Menino Jornaleiro" e "Marvada Carne".
Durante 40 anos apresentaram-se em circos teatros, criaram uma companhia circense, com a qual percorreram o Brasil, são autores de 25 peças teatrais circenses, entre as quais "Mão Criminosa", "Último São João", "Tristeza do Jeca", "Chico Mineiro" e "Cabocla".
A dupla também manteve ao longo de 50 anos programas de música caipira nas rádios Difusora, Rádio Tupi, Nacional (hoje, rádio Globo), Bandeirantes e Record de São Paulo, participou da inauguração da TV Tupi, em 1950, que fez primeira transmissão da televisão brasileira. Tonico e Tinoco também apresentaram o programa "Na Beira da Tuia" nas televisões Bandeirantes, SBT, Cultura e Rede Globo.
Em 1978, eles fizeram um show no Maracanãzinho e um ano depois no Teatro Municipal de São Paulo, receberam vários prêmios Roquetes Pinto, Troféu Imprensa, dois Prêmios Sharp de Música e o Prêmio Di Giorgio